Estudo revela que 84% das pessoas destes grupos já sofreram discriminação social.
Rodolfo Luis Kowalski
Um estudo inédito divulgado pelo Grupo Dignidade na semana passada em parceria com o Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual e a Aliança Nacional LGBTI revelou um cenário preocupante à população LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex) de Curitiba e Região Metropolitana. Das 1.326 pessoas que responderam a pesquisa virtual realizada em agosto do ano passado, 84,4% afirmaram já terem sofrido discriminação.
A violência mais comum, citada por 44,5% dos entrevistados (796 pessoas), foi a discriminação indireta, como olhares, falta de educação entre outros. 33% (592 pessoas) ainda relataram ter sofrido discriminação psicológica, como agressão verbal, e 6,9% sofreram agressão física.
Além do índice alarmante de discriminação, chama a atenção ainda o fato de tais episódios ocorrerem majoritariamente em locais públicos, nos ambientes educativos e no meio familiar. A maior parte dos casos relatados (29,3%, ou 683 registros) ocorreram na rua, enquanto 23,2% (541) foram na escola/faculdade, 23,1% (539) em casa/família, 11,2% (262) no trabalho e 10,3% (241) no comércio. Em alguns casos, a mesma pessoa sofreu discriminação em mais de um desses locais.
Segundo o Grupo Dignidade, o estudo em Curitiba e Região Metropolitana foi uma espécie de ‘teste’ do instrumento de coleta de dados em âmbito local, em preparação para uma pesquisa nacional da mesma natureza a ser realizada ainda em 2018 e que terá análise mais aprofundada e a possibilidade de acesso ao banco de dados.
No caso do presente estudo, cujas entrevistas foram aplicadas em agosto de 2017, foram feitas 35 perguntas sociodemográficas e sobre padrões de consumo, comunicação e opiniões sobre a militância, entre outras.
Rejeição familiar e pensamento suicida são comuns
O fato de a violência e o preconceito serem tão descarados acaba por desembocar em rejeição da própria família ao homossexual, o que acarreta ainda um alarmante índice sobre ideações suicidas. Enquanto 9,95% disseram não serem aceitos pela família, 43,82% dos entrevistados se consideraram “mais ou menos” aceitos. Esse dado vem de encontro com uma pesquisa de 2015/2016 sobre o ambiente escolar, a qual revelou que 65,1% dos estudantes LGBTI não encontravam na família apoio para enfrentar o bullying LGBTIfóbico que sofrem na escola.
Quanto aos pensamentos suicidas, 56,3% (741 pessoas) revelaram já terem pensado em dar cabo à própria vida. Tais dados são corroborados ainda por outras pesquisas. Estudos recentes nos EUA reafirmaram que jovens que se identificam como LGBTI+ têm maior risco de tentar se suicidar que jovens heterossexuais. Outra pesquisa nacional nos EUA revelou que 40% dos jovens LGBTI pensaram seriamente em se suicidar e 25% tentaram de fato. O Grupo Dignidade realiza 100 atendimentos psicológicos por mês gratuitamente e a meta para 2018 é dobrar a disponibilidade de atendimentos, em vista da demanda reprimida e dos resultados da pesquisa em relação a pensamentos suicidas. Outra área com previsão de ampliação é o projeto It Gets Better brasil, que visa fornecer mensagens de esperança via internet para adolescentes LGBTI.
PERFIL LGTBI NA GRANDE CURITIBA
Assumiu como LGBTI até os 21 anos |
63,3% |
Não são assumidos |
15% |
Solteiros |
59% |
Namorando |
23% |
Casados |
16,4% |
Brancos |
73% |
Pardos |
17,8% |
Negros |
6,4% |
Não têm religião |
19,2% |
Católicos |
19,4% |
Cristãos |
15,5% |