Um herói militar gay
25/04/2016:
Mário Rui Cardoso
Sempre
que se ouve falar em discriminação na instituição militar, por razões
de orientação sexual, como foi agora o caso no Colégio Militar, apetece
recordar a história do Barão Von Steuben. Na verdade, o atual poderio
militar norte-americano deve muito a um antigo general prussiano
homossexual, reconhecido pela sua coragem e brilhantismo como estratega.
O subdiretor do Colégio Militar confessou, na imprensa, que, perante a
demonstração de “afetos homossexuais” naquela escola, opta-se por
“falar com o encarregado de educação para que perceba que o filho
‘acabou de perder espaço de convivência interna’ e a partir daí vai ter
grandes dificuldades de relacionamento com os pares”. Cairam o Carmo e a
Trindade. O ministro da Defesa e o PR foram acusados, pelos militares,
de exorbitarem as suas competências constitucionais, pela forma como
reagiram a essas declarações, o Chefe do Estado Maior do Exército
demitiu-se e gerou-se um drama infindo.
Percebe-se que os
militares estejam preocupados com a manutenção da Disciplina com “D”
maiúsculo, como escreveu o coronel Carlos Matos Gomes, um dos mais
ativos nas críticas ao ministro Azeredo Lopes e a Marcelo Rebelo de
Sousa, em todo o processo. Não se entende é que seja sempre mais fácil
recriminar do que explicar. Explicar, por exemplo, aos bravos camaradas
de armas, sejam eles homens feitos ou rapazes do colégio, que no mundo
não existem apenas “meninas” e “garanhões”, e que a coragem e a
disciplina não se medem pelos níveis de testosterona.
E
explicar com exemplos, que obviamente não faltam, na longa história
militar. É aqui que entra o Barão Von Steuben. Podiam outros casos ser
invocados, mas o de Friedrich Wilhelm Von Steuben é, talvez, o mais
notório de um militar homossexual que pouco teria a aprender com quem
quer que fosse, em matéria de valentia, disciplina e destreza bélica.
Von
Steuben foi um brilhante general prussiano do século XVIII, mal visto
pelas monarquias europeias pelas suas propaladas ligações homossexuais.
Viveu num tempo em que George Washington dava voltas à cabeça para
conseguir organizar as frágeis milícias que combatiam os britânicos na
Guerra Revolucionária. E foi ele que, por intermédio de Benjamin
Franklin, acabou por “aterrar” em Valley Forge, na Pensilvânia, para, a
partir daí, organizar o Exército Continental que conduziria à
independência das colónias americanas.
Ao homossexual Von
Steuben deveu-se, então, a transformação de uma milícia desorganizada no
exército bem treinado, disciplinado e profissional que foi capaz de
combater os britânicos com sucesso nas colónias da América do Norte. E a
ele se deveram, igualmente, as “Regulations for the Order and
Discipline of the Troops of the United States”, que foram, durante anos,
a “Bíblia” militar norte-americana. De tal forma que Friedrich Wilhelm
Von Steuben é hoje uma figura histórica reconhecida pelos americanos,
com estátuas em sua homenagem erguidas em Valley Forge e em Lafayette
Park, em Washington, organizando-se, inclusive, anualmente, em setembro,
as Steuben Day Parades, em cidades como Nova Iorque ou Chicago.
De
modo que aos alunos do Colégio Militar que exercem “bullying” sobre os
colegas que demonstram “afetos homossexuais” é que devia ser dada
atenção, nomeadamente falando com os seus encarregados de
educação para que percebam que os filhos deviam estudar a vida do Barão
Von Steuben. Quem sabe assim melhoravam o seu espaço de convivência
interna com aqueles que são diferentes deles.
http://www.rtp.pt/noticias/opiniao/mario-rui-cardoso/um-heroi-militar-gay_913543
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