Blocos LGBT fazem ‘luta festiva’ no carnaval de São Paulo

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Blocos como Agrada Gregos e Siga Bem Caminhoneira se tornaram espaços seguros e de resistência para público que quer curtir o carnaval de rua sem preconceito.

Por Tatiana Regadas, G1 SP

Carnaval é época de liberdade, certo? Hummm nem sempre. Para uma parcela do público folião, carnaval também pode ser época de repressão. Enquanto alguns curtem os blocos, tem gente que não se sente confortável para ser quem é. Teme ouvir gracinhas ou pior: sofrer preconceito.

Pensando nisso, diversos blocos de São Paulo abraçam o público LGBT e todas as suas cores. É o caso do Agrada Gregos, bloco formado por um grupo de amigos que queria levar os sons das baladas de São Paulo para as ruas, especialmente o som das baladas gays.

“A gente apostou muito no carnaval porque ele é historicamente heterossexual, mas por um outro lado muito permissivo. Tem o lado sexual, mas sempre muito hétero. Apesar disso, o cara pode se vestir de mulher que ninguém vai chamar de viado. Todos os públicos se transitam com menos rótulo. No carnaval, o hétero vai conhecer o gay sem estereótipos e assim você humaniza as pessoas. A gente tem que olhar as pessoas como pessoas”, explica Nathalia Takenobu, uma das fundadoras do bloco.

Para Lucas Galdino e Guilherme Carnaúba, organizadores da Gaymada, evento metade esportivo, metade “close”, como eles mesmos descrevem, criar o bloco também foi uma forma de tirar este público de “guetos”.

“A ideia era tentar tirar o estigma de que a gente só vai para lugar fechado, que só vão as pessoas que são da comunidade ou se sentem bem. Tentar ocupar espaços públicos porque a gente tem medo de sair na rua como a gente é. O mundo muitas vezes é ameaçador. A Gaymada convida essas pessoas a estarem ali sem medo do meio opressor. No carnaval é a mesma coisa”, explica Lucas.

O bloco Siga Bem Caminhoneira surgiu com um intuito ainda mais específico: ser símbolo de resistência lésbica e um ambiente em que as mulheres possam se sentir bem.

“O carnaval é uma festa para as pessoas serem livres, mas as mulheres continuam sofrendo assédio, abuso. Quando tem blocos de meninas ou só com bateria de meninas, a gente se sente mais confortável. A gente acaba criando um espaço seguro”, analisa Letícia Peres, fundadora do bloco.

Para as meninas do Desculpa Qualquer Coisa, primeio bloco voltado para o público lésbico e bissexual de São Paulo, a intenção é não naturalizar a exclusão.

“Queremos andar nas ruas às 7h ou às 23h sem sentir medo, podendo ir vir em qualquer espaço e não somente esse ou aquele. Nós, lésbicas e bissexuais, somos agredidas duas vezes: por sermos mulher e por gostarmos de mulher. Ter um espaço voltado para a gente é questão de resistência, visibilidade e expressão. Queremos ser quem somos sem medo de sermos julgadas, agredidas ou mortas e o Desculpa Qualquer Coisa é esse lugar”, explica Renata Corr, DJ e produtora do bloco.

O fervo também é luta

Uma comunidade que luta por respeito e igualdade constantemente também usa a festa para levantar suas bandeiras. A maior delas é a luta contra o preconceito.

“Tem a questão do respeito. São blocos que tem respeito porque é de uma comunidade que está sempre batalhando por respeito, igualdade. Nesses blocos você pode ser quem é. Uma mulher se sente mais confortável com a questão do assédio. É o famoso ‘fervo também é luta’. Fazer luta festiva”, diz Guilherme.

E estar na rua, ocupando espaços públicos, já tem efeito. O Siga Bem Caminhoneira possui uma bateria 100% feminina e muitas das meninas desfilam com os seios cobertos apenas por glitter, mas a recepção nas ruas da Bela Vista foi boa, sem incidentes de xingamentos ou atitudes preconceituosas.

“Dentro da sigla LGBT o público lésbico está num gueto ainda mais escuro, ver as pessoas saindo da janela de suas casas mostrou que podemos ser respeitadas. As pessoas que têm algum tipo de preconceito começam a nos entender como pessoas. Isso é muito especial”, conta Letícia.

O Agrada Gregos já tem festival próprio e organiza diversas festas ao longo do ano, mas vê importância no carnaval justamente por ser uma festa de rua: “A gente faz festa fechada, mas o carnaval é na rua. Acho que é o momento que todas as esferas se tocam e se conhecem com a barreira mais baixa. As pessoas se encontram sem muralhas. Por isso apostamos no carnaval”, conta Nathalia.

E na rua, durante o carnaval, também é hora de “levantar bandeiras”: “Principalmente no carnaval, nós, mulheres, ficamos mais expostas ao assédio e violência. A gente quer se divertir, cantar, dançar, beijar na boca, mas queremos viver esse espaço da rua, da brincadeira, da paquera, também em segurança. A gente acredita que nunca é demais lembrar disso”, diz Renata do Desculpa Qualquer Coisa.

E completa:

“Sem falar que é quando temos mais visibilidade também, então, precisamos aproveitar desse espaço, que nem sempre é de fácil acesso, para lembrar que existimos e resistimos”.

SERVIÇO:

Sábado (10)

Agrada Gregos

Local: Obelisco (Praça Escoteiro Aldo Chioratto,100), 100 – Perto do Obelisco – Parque do Ibirapuera

Horário: das 13h às 19h

Gaymada

Local: Largo da Batata, 61

Horário: das 14h às 19h

Domingo (18)

Siga Bem Caminhoneira

Local: R. Treze de Maio, 886 — Bela Vista

Horário: das 14h às 18h30

CARNAVAL DE RUA DE SP: COBERTURA DOS BLOCOS

 

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/carnaval/2018/noticia/blocos-lgbt-fazem-luta-festiva-no-carnaval-de-sao-paulo.ghtml


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